Eu voto sim!

Esta secção destina-se a todos aqueles que desejem partilhar com os nossos visitantes as razões porque vão votar sim no próximo referendo.

Se desejar enviar-nos a sua declaração, teremos todo o gosto em publicá-la. Para o efeito utilize o nosso formulário de contacto.

Luís Lavoura

Idade: 43

Profissão: Físico

Voto sim para acabar com a hipocrisia de um crime que muitas cometem, todos consentem ou apoiam, e do qual ninguém se sente culpado. Crime que elas sem vergonha assumem com as amigas, mas só às escondidas. Crime do qual não se vêem vítimas, nem prejudica ninguém, crime que é diariamente perpetrado sem que a sociedade dele se ressinta. Um crime assim, não pode ser crime.

Voto sim para que o Estado deixe de fazer julgamentos morais que não tem capacidade nem mandato para fazer. Voto sim para que a sociedade assuma aquilo que faz, o olhe nos olhos e, se quiser, o combata, mas sem se refugiar na ocultação e na hipocrisia.

Voto sim para que possamos ser livres de escolher e de falar das nossas escolhas, sem delas termos que nos envergonhar.

Rosa Baptista

Idade: 31

Profissão: Economista

Vou votar Sim no Referendo da "despenalização do aborto até às 10semanas após...", porque considero que a lei em vigor é antiquada quanto a conhecimentos actuais científicos e penalizante para a sociedade, principalmente para as mulheres. Voto Sim, porque considero que até 10 semanas não existe um ser humano na barriga da mulher, existe vida, mas em casos de impotência para acolher uma futura criança neste mundo por parte de alguém responsável, então até às 10 semanas deve ser permitido a interrupção da gravidez em condições médicas de qualidade para a saúde da mulher.

César Branco

Idade: 32

Profissão: Engenheiro Informático

Aborto...

...direi SIM, porque se vida é vida também será em caso de violação; porque se em caso de violação a vida da mãe é mais importante do que a vida do feto, o que responder a futuras mães adolescentes de 14 anos, grávidas de toxicodependentes, filhas de alcoólicos? "Está bem... podes fazer, mas se o teu pai não for alcoólico ou o teu namorado não for toxicodependente já não podes."

Quem decide? Eu? Eu não quero decidir a vida dos outros... As mulheres e os homens nessa situação que decidam.

E as mulheres ricas, deixamos fazer? Também não quero discutir as razões das mulheres ricas, que decidam também; não quero que o moralismo que quer impedir as mulheres ricas de fazerem abortos porque têm condições, impeça as outras de o fazer.

Carla Graça

Idade: 35 anos

Profissão: Eng.ª do Ambiente

Acredito que toda e qualquer mulher tem o direito a ser mãe em plena consciência e por sua vontade própria. Acredito ser uma violência impor uma gravidez não desejada a qualquer mulher. Em Portugal, nos nossos dias, imensas mulheres abortam na clandestinidade, por vezes em condições miseráveis e insalubres, com a total cumplicidade da nossa sociedade. Há uns anos, acompanhei uma amiga minha quando ela decidiu pôr termo a uma gravidez não planeada, que não tinha condições físicas e/ou psicológicas para suportar. Apesar do suposto secretismo, apercebi-me de que a vizinhança da clínica tinha conhecimento do que se passava e que algumas farmácias funcionavam em perfeito conluio com todo o processo. Mas a minha amiga teve que sofrer em silêncio, ainda hoje sofre em silêncio. A mãe da minha amiga morreu há 30 anos em consequência de um aborto mal feito.
O aborto clandestino serve apenas como uma fonte de riqueza, beneficiando determinados grupos da nossa sociedade. É tempo de a nossa sociedade se preocupar com as mulheres, não as transformando em réus e não as transformando em vítimas. É necessário acabar com a hipocrisia do aborto clandestino, e dar todas as condições às mulheres que desejam abortar, apoiando-as num momento particularmente difícil das suas vidas.

Inês Branco

Idade: 30

Profissão: Gestora de Clientes

Vou votar Sim pela despenalização do aborto, porque penso que uma mulher, ou um casal, deve poder decidir, em caso de gravidez não planeada, se pode e quer, ou não, ter aquele filho. Quanto ao problema de ser uma vida que se mata, acho que para ser coerente teria que me preocupar de igual forma, ou ainda mais, com todas as crianças que vêm ao Mundo e vivem em condições completamente degradantes, que a meu ver, não têm o que se pode chamar de Vida. Por outro lado, até às doze semanas de gravidez está cientificamente provado que um feto ainda não possui o sistema nervoso suficientemente desenvolvido para que se possa considerar Vida Humana. Muitas das mulheres que fazem hoje clandestinamente um aborto depois deste período, fazem-no porque não têm acesso rápido a um sistema que lhes permita fazer mais cedo esse aborto e porque se debatem com dilemas de consciência que lhe são impostos por uma sociedade que não se importa com elas, mas que lhes impõe a sua moral.

Sou a favor do “Sim”, porque quero uma sociedade menos hipócrita, menos intrometida na esfera particular alheia, mas mais preocupada com o “outro”, menos individualista, menos egoísta, mais consciente e mais socialmente responsável.

Maria do Céu de Gião

Idade: 59

Profissão: Assistente Social

Irei votar SIM, a favor da despenalização do aborto, por uma igualdade de oportunidade para todas as mulheres.

Vasco Figueira

Idade: 25 anos

Profissão: Engenheiro Informático

Dia 11 vou votar em defesa da liberdade. Não da liberdade das mulheres "fazerem o que quiserem" com a sua barriga, mas da liberdade de pensamento.

Dia 11 voto sim, por considerar civilizacionalmente abjecto que as concepções apenas sustentadas na fé de uns sejam, pela via democrática ou qualquer outra, impostas a outros. A separação da fé e da razão, em que apenas a última é competente para atender ao debate público, é um legado civilizacional do qual não podemos abdicar.

Independentemente de quando, para mim, começar a vida de pleno direito, não reconheço a ninguém o direito de constranger outrém com base numa crença que nada deve ao pensamento crítico, à razão, ao juízo autónomo e livre, mas apenas aos insondáveis mecanismos da fé. Voto para proteger sobretudo as mulheres dessa intolerância pré-iluminista, tristemente presente no Portugal de hoje.

João Vieira

Idade: 30

Profissão: Consultor TI, formador, colunista e autor de livros técnicos

Sou a favor do sim.

O feto não é um ser humano distinto, ele é parte integrante da pessoa que o tem. Este é totalmente dependente do corpo da mulher para o seu suporte de vida, estando ligado a ela pela placenta e umbigo. A saúde do feto está directamente relacionada com a saúde da mulher grávida. Apenas ao nascer eles são separados.

Muitos acham errado gastar-se fundos do estado para abortar. Mas o dinheiro dos cidadãos pacifistas são usados no ministério da defesa para fins militares, cidadãos que não gostam de futebol pagam para construir estádios, cidadãos que os filhos vão para faculdades privadas também pagam as faculdades do estado para os filhos dos outros.

Pedro José Félix

Idade: 34

Profissão: Revisor Editorial

Eu voto sim, pois penso que a sociedade não ganha nada em levar a tribunal e eventualmente condenar mulheres que o único crime que cometeram foi evitar trazer ao mundo vidas que não merecem ser vividas.

Pedro Antunes

Idade: 26 anos

Profissão: Informático

Eu vou votar sim porque acredito que é a actual lei é prejudicial para as mulheres e cria condições para a existência de clínicas e "profissionais" sem escrúpulos que põem em risco a vida de pessoas ao fazerem abortos sem quaisquer condições ou mesmo habilitações.

O nosso papel deverá ser o de criar condições para que as mulheres que assim o considerem necessário, possam recorrer a serviços médicos que, com toda a segurança, as possam aconselhar e seguir a nível físico e psíquico, e intervir no sentido da sua integridade física ser preservada.

A linha de pensamento que defende o não é errada sobre varias perspectivas, a mais grave das quais é, no meu entender, o não relacionar as sevicias a que algumas crianças são sujeitas com a maternidade indesejada.

Das crianças que estão hoje despejadas em instituições como a Casa Pia ou as Oficinas de São José, quantas foram desejadas? Valerá a pena o seu sofrimento como "prémio" por estarem vivos? Serão os seus pais (aqueles que de forma irresponsável os trouxeram ao mundo para depois os abandonarem) criminosos aos olhos da mesma lei que pune severamente a mulher que aborta?

O direito á escolha deve ser defendido porque independentemente das muitas objecções morais que alguém possa ter, a responsabilidade de ser Pai é uma escolha e não uma imposição.

Maribel Sobreira

Idade: 25 anos

Profissão: Arquitecta

Eu voto sim.

Votarei sim, porque a lei actual não é suficiente, passou algum tempo em relação ao outro referendo e nada se fez, ou o que se fez foi ou é insuficiente. E cabe a cada um a liberdade de escolha, pois a decisão de abortar não é fácil, mas em determinadas situações, sejam elas do foro psicológico, monetário, o que for, terão que ser respeitadas e dado o direito de escolha para tal acto.

Será preferível os pais matarem seu filho com meses ou mesmo anos de idade? Ou é melhor tapar o sol com a peneira, e vivermos na hipocrisia de que tudo se passa mas ninguém quer saber? Ou só as mulheres com poder económico o podem fazer?

Voto sim pela liberdade e igualdade de escolha!

Manuel Ribeiro

Idade: 48 anos

Profissão: Engenheiro

Votarei sim no referendo!

Quase tudo o que vemos à nossa volta, incluindo o edifício moral e social em que vivemos, é e tem sido construído à dimensão dos homens, e os homens não engravidam.

E porque as vítimas têm sido as mulheres e só as mulheres, votarei sim, pois a elas deve ser reconhecida a liberdade do limite. Votarei sim sem dar nem receber lições de moral, respeitando quem irá votar sim e quem irá votar não. Votarei sim porque me esforço em não ser hipócrita.

Oscar Pereira

Idade: 31 anos

Profissão: Assistente Administrativo

Eu voto sim. O sim não é um modo de incitarmos as pessoas ao sexo irresponsável e desenfreado. Eu voto sim sem o intuito de tornar este direito um contraceptivo. Eu voto sim em defesa das crianças que vêm a este mundo sem condições sócio-económicas e mais importante sem carinho e amor.

José Alberto Mostardinha

Idade: 52 anos

Profissão: Técnico-Analista

Sou contra uma lei que manda mulheres para a prisão pelo facto de acharem não ter condições para uma gravidez indesejada pelos mais diversos motivos e que só a cada uma cabe avaliar.

O resto é hipocrisia e condenar a mulher que já sofreu bastante, sobretudo as que não têm meios, a uma situação que deveria, essa sim, ser motivo de preocupação para algumas consciências.

Sílvia Oliveira

Idade: 18 anos

Profissão: Estudante

Sou jovem estudante e tenho a perfeita noção do que seria ter uma gravidez neste momento. Vou votar SIM por mim, por cada mulher que tem consciência que trazer alguém a este mundo não é uma decisão para ser tomada de ânimo leve. "Todos têm direito à vida", mas a que tipo de vida? O mundo já está cheio de crianças que sofrem todos os dias por não terem as condições mínimas de amor, de afecto, de carinho, de higiene, de segurança e de aprendizagem. Eu sou a favor da legalização do aborto, porque defendo a liberdade da mulher.

Margarida Caldeira

Idade: 33 anos

Profissão: Professora

No dia 11 de Fevereiro, votarei sim como votei em 1998, contra a violência, pela vida! Nunca fiz um aborto e não posso ter a certeza que o faria (felizmente nunca estive nessa situação), mas considero uma gravidez indesejada uma violência, para a mãe e para a criança. Considero também uma violência que uma mulher seja julgada por uma decisão que já de si deve ser extremamente difícil de tomar. Pela vida, pela qualidade de vida, pelo direito das crianças a serem amadas e pela liberdade, VOTO SIM.

São Correia

Idade: 41 anos

Profissão: Técnica de Marketing

Cedo percebi que, tal como as mulheres do lado da minha família paterna, provavelmente nunca seria mãe. Fiz-me adolescente com o conforto de não ter que viver com o período menstrual como todas as amigas. Nunca pensei muito na história dos filhos. Casei-me com 18 anos e a adopção era um projecto para o final do curso superior que frequentava. Quando tinha 21 senti que o meu corpo estava a mudar e, apesar de ter sido vista na consulta de endocrinologia onde era seguida, nunca puseram a hipótese de uma gravidez. Resolvi fazer um teste. Estava grávida de cerca de 12 semanas. Tomava anti-epilécticos diariamente e fazia profilaxia da febre reumática - antibiótico 10 dias por mês, qualquer dos medicamentos com efeitos teratogénicos mas fundamentais para a minha saúde. Os médicos informaram-me do risco elevado que existia e falaram-me em aborto terapêutico. Por receio de não haver uma outra vez, pela talvez inconsciência da idade, por nem sei... resolvi não acatar a sugestão.

A gravidez foi acompanhada semanalmente em consulta de risco, os movimentos intra-uterinos foram contados horas a fio, na faculdade fizeram-se concursos de empilhar caixas sobre a minha barriga e os nossos amigos budistas cozinharam-me vegetais a todas as refeições. Ele nasceu e, por segurança e para exames, foi-me logo tirado. Levaram-no para a incubadora no rés-do-chão enquanto eu ficava num segundo andar da MAC, onde não havia elevador. Só o vi ao terceiro dia, não o amamentei e acompanhei-o durante anos a exames que sempre deram negativo. Passados nove anos tornou a acontecer. Já não foi tão estranho nem para mim nem para os médicos. Ainda passei pela fase das consultas e ecografias semanais, desta feita porque tive escarlatina e diabetes. No pós-parto previram uma menopausa precoce que acabou por não chegar pois passados quinze meses e, contra todas as expectativas esperava o meu terceiro filho.

Têm 18, 9 e 8 anos. Aconteceram quando ninguém os esperava. Escolhi recebê-los. São rapazes, portanto sem ovários. Os meus (ovários) continuam doentes mas, não fosse o caso de tornarem a ter um rasgo de saúde laqueei as trompas.

Esta foi a minha escolha mas não desejo que nenhuma mulher tenha que correr riscos ou ser penalizada por escolher diferente de mim.

Elsa Santos

Há dois anos atrás, tinha eu 20 anos e estava a estudar em Londres no âmbito do programa Erasmus. Descuidei-me com os contraceptivos e engravidei. Eu estava fora do meu paí­s, era jovem e não tinha emprego, de maneira que decidi (sem grande hesitação, devo dizer) abortar.

Dirigi-me a uma clí­nica onde me receberam muito atenciosamente. Sentaram-me numa cadeira, explicaram-me tudo o que se iria passar e, mais
importante, apresentaram-me vários argumentos e alternativas. Deram-me um tempo para reflectir, durante o qual fui acompanhada por uma psicóloga. E, para minha própria surpresa, decidi não abortar. A minha filha tem
agora quase dois anos e eu não podia estar mais feliz. É por isto que voto SIM. Porque as mulheres têm o direito a alguém imparcial que as acompanhe, que as aconselhe, que lhes mostre todas as alternativas, que lhes explique o que está em causa. Elas merecem ser ouvidas, ser ajudadas e, quem sabe, convencidas a não o fazer, como aconteceu comigo.

Voto SIM porque as mulheres merecem uma cadeira onde se sentar que não seja a dos réus.

Manuel Carlos Silva*

Acabo de ouvir Marcelo Rebelo de Sousa com o seu sofisma argumentativo jurídico-político sobre o “Não” como “voto plural” em contraponto com o “Sim” como “voto unificado” e não resisti ao impulso de desmontar, na sequência de outras muito mais argumentadas intervenções, tais como as de Vital Moreira, Maria José Alves, Alexandre Quintanilha, Odete Santos, Albino Aroso, Lídia Jorge e Jorge Salgado, esta refinada demagogia dos defensores do “Não”, agora sob um alegado posicionamento mais democrático e plural do votantes do “Não”! Tudo isto a acrescer à baixeza de imagens e slogans em torno da “defesa da vida” com um implícito dedo acusador a cidadãos que votem pelo “Sim” como “criminosos”, culpabilizando-os subrepticiamente de “não salvar vidas” futuras!

Não obstante o pedido de contenção do cardeal patriarca José Policarpo prevendo a provável vitória do “Sim”, alguns padres e bispos ultramontanos e reaccionários deste Portugal profundo vêm denotando uma ferocidade anticivilizacional e uma insensibilidade social espantosa. Que autoridade moral histórica tem uma hierarquia eclesiástica na defesa da vida e dos seres humanos vivos, quando entre as tristes memórias da mesmíssima herança histórica surge a fogueira da inquisição e a subsequente lei de pena capital a filósofos e teólogos dissidentes, passando pela liquidação de bruxas na Europa e na América Latina (porque conluiadas com o diabo!), até ao extermínio de povos indígenas sob o lema da “cruz e do império” e, por fim, a violentação de consciências e a repressão de gente simples do povo porque praticante de formas de religiosidade animistas e antropomórficas? Mais, salvo honrosas excepções de bispos, padres e leigos identificados com lutas de emancipação dos povos, o grosso da hierarquia eclesiástica, desde que se aliou aos poderes estatais no longínquo século IV, passando pelas mortandades no quadro da inquisição e, posteriormente, da colonização, até ao colaboracionismo com regimes despóticos, ditatoriais, inclusive o silêncio face ao próprio nazismo, (quase) nunca se levantou contra genocídios e despotismos ao longo da história, sendo não raro o seu suporte ideológico teocrático de tipo taliban. Mais, apesar de todas as proclamações retóricas contra as guerras e o extermínio dos povos pela subnutrição e pela fome de milhões de pessoas adultas e sobretudo crianças no chamado Terceiro Mundo, não põe em causa a própria raiz dessas situações actuais: o sistema capitalista e imperialista, o fosso entre países centrais e países periféricos. Não bastam votos piedosos! Os seres humanos têm direito a serem desejados e educados com uma vida digna. Nenhuma mulher assume de ânimo leve, em sofrimento e em desespero de causa, a difícil decisão de interromper uma gravidez não desejada.

Seria curial que os doutrinadores bem conhecedores da doutrina aristotélico- tomista tivessem presente o seu distinguo filosófico-teológico entre ser virtual, potencial – tal como ocorre também com um embrião interrompido até às 10 semanas – e o ser humano, actual, pessoa real e com personalidade jurídica pós nascimento. Sem entrar agora nos meandros dos debates entre especialistas sobre o momento do início da vida, o que está em causa no próximo dia 11 de Fevereiro não são convicções éticas nem a crença (ou não crença) religiosa de cada cidadão mas sim a despenalização da interrupção voluntária da gravidez. Com a vitória do “Sim” ninguém é violentado na sua consciência inclusive na sua consciência íntima e pessoal no tocante ao aborto. Mais, ao despenalizar o aborto até às 10 semanas, pode ter e possibilitar que outras (mulheres) tenham os apoios necessários para amadurecer uma decisão, inclusive a de não abortar.

A substancial diferença entre quem vote sim e quem vote não é a de que, enquanto o voto pelo “sim” respeita a consciência inclusive religiosa de cada um e é o único voto de expressão plural para todas as possíveis hipóteses inclusive a de ser acompanhada (a mulher e seu companheiro!) por médicos e psicólogos na difícil decisão de interromper ou não uma gravidez, o voto pelo “não” deixa a mulher numa eventual situação dramática face a uma gravidez não desejada, confrontada com uma decisão solitária e desacompanhada, com a agravante de, ao fazê-lo de modo clandestino e inseguro, comportar riscos por vezes irreparáveis. De resto, esta é uma questão de justiça social, pois, enquanto a mulher com recursos e conexões sociais pode deslocar-se ao estrangeiro e abortar em segurança, aquela que não os tem recursos ver-se-á impelida ao aborto clandestino e a eventual julgamento. O posicionamento dos doutrinários do não é, não só à luz do pensamento emancipatório (socialista, anarquista, marxista) como inclusive à luz do pensamento iluminista e da modernidade liberal desde o século XVIII ao século XXI, mais uma concretização do velho e medieval totalitarismo ideológico eclesiástico que, por um lado, diz que o Estado não pode nem deve interferir nestas questões, mas, por outro, serve-se do poder repressivo do Estado penal para manter a situação de injustiça, julgando e criminalizando as mulheres que, por constrangimentos de vária ordem – física, psicológica, moral, económica ou outra – se sintam perante o drama de interromper no período das primeiras 10 semanas uma gravidez não desejada. Sem ser crente, estou com “fé” de que, não obstante as baixezas, as confusões e os sofismas dos ideólogos do “não”, vencerá desta vez o SIM porque potencia a cidadania num quadro plural de posicionamentos dos cidadãos face a este problema social.

*sociólogo, professor universitário

Teresa Fonseca

Encontro-me em Espanha e, infelizmente, não poderei estar presente para votar, pelo que desejo manisfestar-me contra algo que agora aparece frequentemente na tv aqui. É impressionante ver como a própria opinião pública espanhola demonstra a sua incompreensão face a um assunto que já vai a debate público em Portugal há varios anos. Isto porque não só nesta matéria, como em muitas outras, Portugal continua a ser um pais retrogado e onde a informação só parece ser um dever e não um direito. Senão veja-se o caso da educação sexual que já existe em França há mais de 30 anos e em Portugal apenas se discute como se há-de aplicar nas escolas! Demoramos mais tempo a discutir do que a tomar decisões.

É por esta razão e outras tantas que acho importante termos uma sociedade mais participativa e consciente, para que se acabe com a hipocrisia e possamos evoluir a par dos outros países europeus.

Pelo direito à escolha
individual e, como mulher, voto SIM!